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O Manto de São José

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São José com sua capa carregando o menino Jesus

Por aqueles dias, São José devia dirigir-se às montanhas de Hébron, onde tinha ajustado um carrego de madeira; mas vinha adiando a partida dia após dia, na tentativa de reunir o dinheiro necessário. Porém, em vão! Os dias passavam e José não conseguira reunir senão metade do dinheiro. E o caso é que já não podia esperar mais; era preciso servir os clientes e portanto ir buscar a madeira.

  • Se vos parece bem – disse-lhe a Santíssima Virgem -, pedirei emprestado aos parentes o dinheiro que falta.
  • Eu mesmo irei – respondeu São José.
  • Não, esposo meu – suplicou Maria -; deveis fazer uma longa viagem e não vos deveis cansar – e cobrindo a cabeça segundo o costume, saiu de casa. Ao regressar disse-lhe:
  • Não há dinheiro. Pedi em várias casas e todas se desculparam; com certeza não o têm porque se o tivessem, porque se negariam a emprestá-lo? Mas pensei uma coisa, – continuou Maria, ocultando sob um doce sorriso o sentimento do seu coração -;…pensei que podíeis deixar o vosso manto como garantia até poder pagar e com isso o dono da madeira com certeza dar-se-ia por satisfeito.
  • Pensastes bem – disse São José, baixando os olhos, para que a sua virginal esposa não os visse rasos de lágrimas.
  • Adeus, esposo meu – disse Maria ao despedir-se -. O Deus de Abraão vos acompanhe e o seu Anjo vos guie.
  • Adeus esposa minha; procurarei regressar depressa.

E partiu o santo com a metade do dinheiro e o manto novo que Maria lhe oferecera no dia do casamento.


  • Deus te abençoe Ismael, disse o pai adotivo de Jesus de modo cortês ao chegar à presença do dono da madeira contratada.
  • Vens buscar a madeira? – foi a resposta à saudação de José -; bem podias ter vindo antes; pouco faltou para que ficasses sem nenhuma.

Ismael tinha mau feitio, era um avarento sem coração, a sua casa nunca conhecera a paz, a sua paixão era o dinheiro e tudo isto sabia José desde que negociava com ele; por isso já podemos imaginar a aflição que sentia o humilde carpinteiro por ter que declarar o estado das suas finanças. Escolheu a madeira, pondo-a de lado, e chegado o momento chamou à parte Ismael e falou-lhe assim:

  • Não trago comigo senão a metade do dinheiro; mas tu sabes que sempre te paguei até à ultima moeda. Tem um pouco de paciência e pagar-te-ei até ao ultimo quadrante; entretanto fica com este manto como garantia.

Ismael protestou e voltou a protestar, de tal modo que esteve a ponto de desfazer o negócio; mas no fim lá acabou por ceder, se bem que de mau grado, ficando com o manto do casamento de São José como garantia até que este pudesse pagar.

O avaro Ismael tinha doentes os olhos desde havia tempo e apesar de inverter muito dinheiro em medicinas e médicos não conseguira ainda recuperar a saúde; tinha já perdido a esperança de se curar, pelo que foi grande a sua surpresa quando na manhã seguinte a este dia constatou que os seus olhos estavam sãos como se nunca tivessem estado doentes.

  • Mas o que é isto?! – perguntava-se -. Ontem doentes com úlceras incuráveis, e hoje sãos sem medicina alguma!

Não atinava Ismael com a razão de tudo aquilo e ao chegar a casa contou à esposa o prodígio. Eva, que assim se chamava a mulher, era uma verdadeira serpente, tinha um génio de fera, e desde que casara com Ismael jamais havia tido paz, nem tranquilidade, nem gosto no matrimónio; mas aquela noite parecia um cordeiro. Que doçura a das suas palavras! Que mansidão! Que alegria no seu rosto antes sombrio e enrugado pela ira! “Que é isto? Que mudança é esta? Quem traria tal mudança?” – perguntava-se Ismael.

  • Toma este manto e guarda-o – disse Ismael a Eva -. É de José, o carpinteiro de Nazaré, e há-de voltar por ele. Este manto deve ser a explicação de tudo o que está a acontecer – pensou para si Ismael -. Desde que o tenho em meu poder sinto em mim tal mudança, tais afetos e tais desejos, que não pode ser outra a causa. Ouviram então barulho no estábulo e, terminando a conversa, acudiram para ver do que se tratava.

Uma vaca, a melhor, a mais gorda, retorcia-se no chão. Pobre animal! Apesar dos remédios que ambos esposos lhe administravam não melhorava; pelo contrário, parecia ir apagar-se a qualquer momento. Lembrou-se então Ismael do manto de José e comunicou a Eva os seus pensamentos; nada tinham a perder; mas se a vaca se curasse, saberiam que o manto era a causa da sua sorte e do bem-estar que desfrutavam.

Assim que lhe puseram o manto em cima o animal levantou-se do chão onde antes se retorcia e pôs-se a comer como se nada tivesse acontecido.

  • Vês? – disse Ismael -, este manto é um tesouro. Desde que está em nossa posse somos felizes. Conservemos este presente dos céus; não nos desprendamos dele nem por todo o ouro do mundo.
  • E não o devolveremos ao dono? – perguntou Eva inquieta.
  • Não lho devolveremos – respondeu Ismael resolutamente.
  • Então – disse Eva – vamos comprar-lhe outro melhor que este no mercado de Jerusalém e, se te parece bem, iremos os dois levar-lho.
  • Sim – respondeu o marido -. Eu perdoo-lhe a divida e estou disposto a dar-lhe daqui em diante toda a madeira que ele necessitar.
  • Não disseste que tem um filho chamado Jesus? – perguntou Eva -. Levar-lhe-ei de presente um par de cordeiros brancos e um par de pombas alvas como a neve. E a Maria, azeite e mel. Parece-te bem, esposo meu?
  • Tudo me parece excelente – respondeu -. Amanhã iremos a Jerusalém e dali a Nazaré.

Já estavam os camelos preparados para a viagem quando chegou ofegante um irmão mais novo de Ismael dizendo que a casa de seu pai estava a arder e era preciso levar o manto do carpinteiro para apagar o incêndio. Não havia tempo a perder. Os dois irmãos correram precipitadamente para casa do pai e ao chegar cortaram um pedaço do milagroso manto e atiraram-no ao fogo. Não foi necessário derramar uma só gota de água; aquilo foi o bastante para apagar o incêndio. As gentes admiraram-se ao ver tal prodígio e louvaram o Senhor.

  • Que aconteceu? – perguntou Eva ao vê-los de volta – Já se extinguiu o fogo?
  • Sim – respondeu o esposo satisfeito -; um pedaço do manto bastou para realizar o milagre.

Dias depois apeavam-se dos camelos à porta do carpinteiro de Nazaré. Ismael, o antigo avarento, e Eva sua esposa, vinham cheios de humildade prostrar-se aos pés de José e Maria e trazer-lhes vários presentes. Ao vê-los, São José e a Santíssima Virgem Maria pensaram que vinham reclamar o dinheiro em falta e encheram-se de tristeza, pois ainda não tinham conseguido reuni-lo. Mas ao entrarem na casa onde José, Maria e o Menino Jesus se encontravam, puseram-se ambos de joelhos e tomando Ismael a palavra disse:

  • Vimos, minha esposa e eu, agradecer-te pelos imensos bens que recebemos do céu desde que me deixaste o manto como garantia; e não nos levantaremos daqui sem obter o teu consentimento de ficarmos com ele para que continue a proteger a minha casa, o meu casamento, os meus interesses e os meus filhos.
  • Levantai-vos – disse José, estendendo as mãos para os ajudar.
  • Oh, Santo Profeta! – respondeu Ismael num arroubo espiritual -; permite ao teu servo que fale de joelhos e ouve estas palavras: os meus olhos estavam doentes e o teu manto curou-os; era usureiro, altivo, rancoroso e homem sem coração e converti-me a Deus; minha esposa estava dominada pela ira e agora é um anjo de paz; deviam-me grandes quantias de dinheiro e cobrei tudo sem trabalho algum; estava doente a melhor das minhas vacas e curou-se de repente; incendiou-se a casa de meu pai e extinguiu-se o fogo instantaneamente ao atirar para o meio das chamas um pedaço do teu manto.
  • Louvado seja Deus por tudo! – disse baixando os olhos o santo Carpinteiro -. Levantai-vos, que não está bem que estejais de joelhos diante de um homem tão humilde como eu.
  • Ainda não terminei – respondeu Ismael -. Tu não és um homem como os outros, mas um Santo, um Profeta, um Anjo na terra. Trazemos-te um manto novo, dos melhores que se tecem em Sídon; a Maria tua esposa trazemos-lhe azeite e mel, e a Jesus, teu filho, oferece-lhe minha esposa um par de cordeiros brancos e um par de pombas mais alvas que a neve do Líbano. Aceita estes humildes presentes, dispõe da minha casa, do meu gado e dos meus bosques, das minhas riquezas, de tudo o que possuo e…não me peças de volta o teu manto!
  • Ficai com ele! – disse o santo Carpinteiro -; e graças, muitas graças pelas vossas ofertas.

E enquanto se levantavam do chão e aproximavam os presentes, disse-lhes Maria – sabei, bons esposos, que Deus determinou benzer todas as famílias que se coloquem sob o manto protetor do meu santo esposo. Não vos espantem pois os prodígios operados; outros maiores vereis; amai José, servi-o, guardai o manto, dividi-o entre os vossos filhos, e seja esta a melhor herança que lhes deixeis no mundo.

…E é sabido que os esposos guardaram fielmente os conselhos da Santíssima Virgem Maria e foram sempre felizes, assim como os seus filhos e os filhos dos seus filhos.

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